Como alguém conhece o seu verdadeiro eu?
Quando eu era jovem, nunca pensei
muito nisso, mas, como jogador e particularmente como técnico, fui ficando
cada vez mais interessado no assunto. Liderar pessoas ajuda a ter uma ideia de
quem elas são — as circunstâncias em que cresceram, as suas ações que levam a extrair
o melhor delas e as observações que lhes causarão mais impacto. A única maneira
de descobrir isso é por meio de duas actividades subestimadas: ouvir e observar.
A maioria das pessoas não usa os olhos e ouvidos com eficiência. Elas não
são muito observadoras e não conseguem se concentrar no que ouvem. Como
resultado, metade das coisas que acontecem à sua volta passam despercebidas. Sei
de alguns técnicos que não param de falar. Não acho que isso os ajude. Há uma
razão para Deus nos ter dado dois ouvidos, dois olhos e uma boca: é para que
possamos ouvir e observar duas vezes mais do que falar. E o melhor é que ouvir
não custa nada.
Dois dos melhores ouvintes que já conheci faziam entrevistas na televisão.
Antes da sua morte, em 2013, David Frost havia passado quase cinquenta anos
entrevistando pessoas, entre as quais, mais notoriamente, o ex-presidente americano
Richard Nixon. Conheci Frost em 2005, quando investíamos em um
fundo imobiliário com o mesmo gestor. Alguns anos mais tarde, após deixar a
BBC, ele me entrevistou para a Sky Sports.
Ao contrário da maioria dos entrevistadores de televisão, David não sentia a
necessidade de provar que era mais inteligente do que o convidado.
Muitas pessoas são incapazes de parar um tempo e ouvir — em
particular quando se tornam bem-sucedidas e todo o mundo ao redor é obsequioso
e finge acatar cada uma das suas palavras. Elas adquirem o hábito de fazer monólogos,
como se de repente soubessem tudo. Deixando esses megalomaníacos
de lado, vale sempre a pena ouvir os outros.
Livro: Alex Ferguson - Liderança
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